Artistas e autoridades lamentam morte do escultor Abelardo da Hora

Obras do artista enfeitam várias ruas e praças do Recife.

Internado há mais de mês, artista morreu de insuficiência cardiorrespiratória.

Com ateliê funcionando em casa, Abelardo da Hora tem obras espalhadas por toda a residência (Foto: Katherine Coutinho / G1)Abelardo da Hora em sua residência, em julho de 2014. (Foto: Katherine Coutinho / G1)

Artistas e autoridades lamentaram a morte do artista plástico pernambucano Abelardo da Hora, 90 anos, nesta terça-feira (23), no Recife. Ele estava internado há pouco mais de um mês, no Hospital Memorial São José, e morreu de insuficiência cardiorrespiratória. Amiga de longa data de Abelardo, a artista plástica Tereza Costa Rêgo afirmou que “perdeu um irmão artista” e que toda a cultura brasileira perde com a partida dele. “Ele era um companheiro de todas as horas, há mais de 30 anos. Vai deixar um buraco muito grande em Pernambuco, ele formou centenas de artistas, quase todos os daqui do estado passaram pelas mãos de Abelardo. Ele deixa um acervo fantástico pelas ruas, uma prova e um recibo do que ele signifcou para o Recife. Pernambuco está de luto e as artes pernambucanas perderam seu grande professor”, aponta.

'O Artilheiro' é uma das obras mais recentes do artista (Foto: Katherine Coutinho / G1)‘O Artilheiro’ é uma das obras mais recentes do
artista (Foto: Katherine Coutinho / G1)

O pintor, escultor e ceramista Francisco Brennand, 87 anos, foi aluno de Abelardo e sintetizou em uma frase sua tristeza pela partida do mestre. “Para o mundo da arte e amigos, sua perda é inestimável”.

O cantor Claudionor Germano, 82 anos, lamentou a morte do irmão e agradeceu o carinho do povo pernambucano. “É uma perda irreparável para a cultura da nossa terra. Perda maior ainda para a nossa família, que tinha nele um esteio, um exemplo de dignidade, respeito e trabalho. Ele, infelizmente, pouco antes de morrer, teve a lembrança de uma desgraça: disse à filha que estava sofrendo mais agora do que com as torturas da ditadura. Mas Deus o levou desses cafajestes que fizeram isso com ele, levou também com o amor de toda a família. A todo o povo da minha terra, os agradecimentos das mensagens de carinho e reconhecimento ao seu valor”, disse.

O governador João Lyra Neto decretou luto estadual de três dias. “Aos 90 anos, ainda lúcido e ativo, Abelardo da Hora continuava sua extensa obra iniciada desde os anos 1940, quando começou a moldar suas primeiras peças na Escola de Belas Artes do Recife. Sua obra se caracterizou com o compromisso com o povo: uma galeria de arte a céu aberto. Espalhou sua criatividade por ruas avenidas, prédios públicos, bancos, hotéis, hospitais  e edifícios residenciais. Um arte feita com amor e paixão que faz parte do cotidiano dos pernambucanos. Abelardo da Hora deixa um legado também na militância política em favor dos mais pobres da nossa sociedade, causa que sempre se comprometeu, utilizando seu trabalho como forma de contribuição para a melhoria da sociedade. Um artista politicamente combativo e fortemente defensor do povo”, ressaltou Lyra Neto, em nota oficial.

Geraldo Julio, prefeito do Recife, também decretou três dias de luto na capital. “Abelardo se dizia um homem de coração recifense. Mas tinha o coração universal dos grandes mestres. Dos que vivem para encantar e fazer pensar. (…) Abelardo atuou na gestão pública, enfrentou a ditadura, criou o Movimento de Cultura Popular. Por isso sua obra vai muito além da contemplação. É trabalho de raiz guerreira e inteira, tradução de sentimentos e necessidades. Coragem, senso de liberdade e generosidade fizeram de Abelardo um artista do povo, pelo povo, para todos”, comentou, em nota oficial.

A prefeitura de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife, onde o artista plástico nasceu, foi outra que decretou luto oficial de três dias. Em nota, o prefeito Ettore Labanca lembrou que Abelardo foi homenageado no carnaval deste ano e que, entre suas obras, está o Cristo, no Alto da Igreja da Matriz, no Centro do município, e a estátua ‘O Artilheiro’, diante da Arena Pernambuco, inaugurada no dia 31 de julho, por ocasião do aniversário de 90 anos do artista.

O presidente do Tribunal de Justiça de Pernambuco, Frederico Neves, também lamentou o falecimento do escultor desenhista, ceramista, gravador e poeta. “Sua vasta obra deixa uma marca na história do Estado e uma grande contribuição para a cultura de Pernambuco”, disse em nota, lembrando que ele recebeu a Medalha de Alta Distinção do Judiciário estadual, Grau Cavaleiro, durante a solenidade de comemoração pelos 192 anos do TJPE.

A Secretaria de Cultura e a Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe) também enviaram nota relembrando que o artista plástico “dedicou sua vida à missão de aproximar a arte do nosso cotidiano, de pautar a cultura como elemento de reflexão política e de transformação social” e formou inúmeros artistas pernambucanos, como Francisco Brennand, Gilvan Samico e Aloisio Magalhães.

De acordo com o filho do artista, Abelardo Filho, o velório começa às 15h no salão nobre da Assembleia Legislativa de Pernambuco (Alepe). O corpo fica no local até o horário do enterro, que será na quarta-feira (24), às 11h, no Cemitério de Santo Amaro.

Paixão pela arte
Escultor, desenhista, ceramista, gravador e poeta, Abelardo da Hora era um pernambucano apaixonado pelas artes e trabalhava com frequência temas como as mulheres, o frevo e o maracatu em suas obras. Em entrevista ao G1, no final de julho, por ocasião dos seus 90 anos, o artista disse que não queria parar de produzir. Em 2011, o artista recebeu o título de cidadão recifense da Câmara Municipal. Natural de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana, Abelardo é autor de mais de 1.800 obras, entre esculturas, cerâmicas e desenhos, muitas delas espalhadas pelo Recife. Na Praça da República, é possível ver o “Monumento aos Heróis de 1817”, enquanto a Rua da Aurora conta com o “Memorial do Frevo”.

Uma das úlitmas peças produzidas por Abelardo foi a escultura ‘O Artilheiro’, que tem cinco metros de altura e é feita em bronze polido. A obra foi inaugurada no dia do aniversário do artista, 31 de julho, em frente à Arena Pernambuco, em São Lourenço da Mata, onde Abelardo nasceu.

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